Montag, 29. August 2011

Conto : Feliz Aniversário

Autor : Clarice Lispector


Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, mas seus pais imigraram para o Brasil pouco depois. Em 1924 a família mudou-se para o Recife, e Clarice passou a freqüentar o grupo escolar João Barbalho. Aos oito anos, perdeu a mãe. Três anos depois, transferiu-se com seu pai e suas irmãs para o Rio de Janeiro.Em 1939 Clarice Lispector ingressou na faculdade de direito, formando-se em 1943. Trabalhou como redatora para a Agência Nacional e como jornalista no jornal "A Noite". Casou-se em 1943 com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem viveria muitos anos fora do Brasil.  No ano seguinte a   escritora ganhou o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras. Dois anos depois publicou "O Lustre".Em 1954 saiu a primeira edição francesa de "Perto do Coração Selvagem", com capa ilustrada por Henri Matisse. Em 1956, Clarice Lispector escreveu o romance "A Maçã no Escuro" e começou a colaborar com a Revista Senhor, publicando contos. Em 1960, publicou um livro de contos chamado “Laços de família”. Esta obra é composta por 13 contos, cuja temática central é o cotidiano e a prisão doméstica. A maioria dos contos tem, como personagem principal, figuras femininas, com exceção de dois contos em que o protagonista é masculino. As histórias são narradas na cidade do Rio de Janeiro e ocorre, durante cada narração ficcional, o desfacelamento dos laços familiares ou a queda brusca do cotidiano. A escritora lança o leitor ao mais profundo de si mesmo, pois há uma busca de identidade que passa pela busca do outro.Feliz Aniversário foi o quinto conto do livro “Laços de família”, considerado o mais irônico e um dos mais perturbadores relatos da autora.



O Conto 

Estética: O conto foi escrito em prosa(introdução, desenvolvimento, clímax e desfecho) e  com uma linguagem extremamente poética.História breve e de aparência simples, ela conduz a sentimentos paradoxais.Procura mostrar todos os detalhes do ambiente onde se passa.

Elementos Narrativos:

Narrador: É observador, não participa do conto.

Tempo: Cronológico

Espaço : A história se passa na casa na casa de Zilda, filha de Dona Anita.

Personagens : Dona Anita,  uma senhora que completa oitenta e nove anos, e seus familiares reúnem-se para comemorar a data; Zilda, a filha com quem a aniversariante mora, organiza a casa para receber a família;José , o filho mais velho agora que Jonga ,o filho predileto de Dona Anita, tinha morrido;Manoel, sócio de José;Cordélia, a nora mais moça; Noras, netos e vários convidados.

Enredo : A história aborda a questão da hipocrisia presente nos laços sociais e familiares, bem como os conflitos de uma família de classe média na cidade do Rio de Janeiro. O conto narra a comemoração de aniversário de uma senhora,Dona Anita, que completa oitenta e nove anos e, através do seu olhar, percebe-se o mascaramento que rege as relações familiares. Ela morava com uma das filhas, Zilda, que havia preparado tudo para a festa e convidado os irmãos com suas esposas e filhos.
Logo depois do almoço, Zilda vestiu a mãe e a colocou na cabeceira da mesa já arrumada, a fim de esperar os convidados que chegariam no final da tarde.
A chegada de todos foi desastrosa. A aniversariante continuava na cabeceira da mesa sem participar da própria festa. Cantaram parabéns e uma neta pediu para a vó cortar o bolo. Ela o fez com brutalidade. Todos ficaram espantados.
A festa continuou e a idosa passou a observar com desdém a própria família. Inesperadamente, ela cuspiu no chão. Zilda ficou envergonhada, pois todos achavam que ela era responsável pela mãe. Um dos filhos fez um breve discurso tentando amenizar o clima desagradável que se instalara.
Até que, ao anoitecer, deram um beijo na aniversariante e foram embora. Ela continuou na cadeira, pensativa e triste com a família.Percebeu que no lugar do afeto,todos os familiares íam a sua festa como se fosse uma obrigação.É imperceptível e desinteressante o fato da senhora está sendo homenageada.Isso pressupõe a desvalorização da matriarca em uma sociedade dita matriarcalista, em que os valores familiares já estão desgastados e eles se reúnem apenas para promover um encontro que seja simbólico.


Sonntag, 28. August 2011

Conto: ''Clínica de Repouso''

Autor: Dalton Trevisan
Dalton Trevisan nasceu em Curitiba PR, em 14 de junho de 1925. Formado pela Faculdade de Direito do Paraná, liderou em Curitiba o grupo literário que publicou, em 1946, a revista Joaquim (em homenagem a todos os Joaquins do Brasil). A publicação, que circulou até dezembro de 1948, continha o material de seus primeiros livros de ficção, entre os quais Sonata ao luar (1945) e Sete anos de pastor (1948). Em 1954, publicou Guia histórico de Curitiba, Crônicas da província de Curitiba, O dia de Marcos e Os domingos ou Ao armazém do Lucas, edições populares à maneira dos folhetos de feira. 
A partir da gente de sua cidade, chegou a uma galeria de personagens e situações de significado universal, em que as tramas psicológicas e os costumes são agudamente recriados por meio de uma linguagem precisa e de sabor genuinamente popular, que valoriza os mínimos incidentes de um dia-a-dia sofrido e angustioso. Publicou também Novelas nada exemplares (1959), Morte na praça (1964), Cemitério de elefantes (1964) e O vampiro de Curitiba (1965). Isolado dos meios intelectuais, Trevisan obteve, sob pseudônimo, o primeiro lugar do I Concurso Nacional de Contos do estado do Paraná, em 1968. Escreveu depois A guerra conjugal (1969), Crimes da paixão (1978) e Lincha tarado (1980). Em 1994, publicou Ah é?, obra-prima de seu estilo minimalista. Além de escrever, Trevisan exerce a advocacia e é proprietário de uma fábrica de vidros.
As histórias de Dalton Trevisan, um dos melhores contistas brasileiros contemporâneos, reproduzem um cotidiano angustioso numa linguagem direta e popular.

O Conto
Estética: Texto escrito em prosa, de frases curtas, e marcado pela fala dos personagens. É uma narração simples e com palavras bastantes regionais, como ‘’broinha de fubá mimoso’’ ou ‘’melindrosa’’.
Elementos Narrativos:
Narrador:  Narrador observador, não estando presente no conto.
Tempo: O tempo é curto e, por ser formado basicamente por pequenas falas, o conto dá a idéia de uma sequência rápida dos acontecimentos, o que acarreta o leitor estar sempre ligado nos acontecimentos da narrativa.
Espaço: A historia acontece primeiramente na casa de Dona Candinha mas logo depois se passa em seu quarto e termina na clinica de repouso ou asilo, no qual a senhora ficou internada.
Personagens: Dona Candinha, sua filha Maria e o noivo de Maria, João.
Enredo (Síntese do Conto): O conto começa com Maria, filha de Dona Candinha, pedindo a mãe para que esta hospedasse o irmão de uma amiga sua de infância que, sem conhecer ninguém na cidade, não teria como pagar pensão até poder achar algum emprego. Mas Dona Candinha começa a se incomodar com a presença do hóspede e fica inconformada ao saber que este era o noivo de sua filha, quando os vêem aos beijos.O noivo, assustado, vai embora, mas Maria não aceita a sua saída e as conseqüentes briga entre mãe e filha deixa Dona Candinha extremamente doente. Os dias passam e a filha não acredita na doença da mãe, achando que inventou estar de cama para castigá-la. Tal fato mostra o quanto a filha não se importava com a opinião, nem tão pouco para as dores psicológicas e fisicas da mãe.
Com o passar dos dias, Maria decide internar a mãe no Asilo, entre doidos, epiléticos e alcoólatras, na qual um sistema de alto-falantes ameaça com choques e injeções., mostando desleixo da filha que bota a mãe no asilo sem saber que a doença de sua mãe era real e que estava sendo acarretada devido a tantos problemas.Ressentida com o tratamento que a filha que criara estava lhe dando, a senhora, internada no asilo, vê os dias passarem tratando uma mosca que, afeiçoada a ela, vem alimentar-se sobre sua mão.
Daton Trevisan consegue captar o poético a partir de textos extremamente objetivos. Dona Candinha, abandonada pela filha, encontra consolo em uma última companheira: a mosca. É importante perceber que a atmosfera construída pelo autor resgata o lirismo a partir de um final absolutamente insólito. Em síntese, a narrativa expõe importância das relações interpessoais, tanto na vida de hoje, quanto na de ontem. Quando a temos, nos perdemos entre problemas e intrigas, por coisas consideradas banais, faltando tolerância e dialogo. 

Conto: "Luz sob a porta"



Autor: Luiz Vilela

Nascido em 1942 em Ituiutaba (MG), publica seu primeiro artigo em 1956 num jornal de estudantes. Filósofo, romancista e contista. Formou-se em Filosofia na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte.  Estreou na literatura aos 24 anos, com o livro de contos Tremor de terra, pelo qual recebeu o Prêmio Nacional de Ficção em Brasília. Participou de vários projetos literários como A Revista e a Página dos Novos, editada pelo jornal Estado de Minas. Foi também premiado no I e II Concurso Nacional de Contos, do Paraná. Seus contos, romances e novelas já foram traduzidos em vários países, como Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Argentina, Paraguai, Chile, Venezuela e México.
Morou em São Paulo, onde foi jornalista do Jornal da Tarde, passando a publicar seus trabalhos literários. Correu o mundo, viajou pela Europa, foi convidado a lecionar nos Estados Unidos e para ser jurado do Prêmio Casa de las Américas, em Cuba. Já há vários estudos sobre suas obras nas universidades brasileiras, com alguns trabalhos também no exterior.
É considerado um dos melhores contistas da atualidade, e depois de alguns períodos morando em São Paulo, nos EUA e na Espanha, vive atualmente em sua cidade natal.





Obras

Tremor de Terra (contos, 1967)
No Bar (contos, 1968)
Tarde da Noite (contos, 1970)
O Fim de Tudo (1973), livro de contos com o qual ganhou o Prêmio Jabuti.
Lindas Pernas (contos, 1979)
O Inferno é Aqui Mesmo (romance, 1983)
Entre Amigos (romance, 1983)
Os Novos (romance, 1984)
Contos Escolhidos (antologia, 1985)
Uma Seleção de Contos (antologia, 1986)
Contos (antologia, 1986)
Os Melhores Contos (contos, 2001)
O Violino e Outros Contos (antologia, 1989)
 Graça (romance, 1989)
Te Amo Sobre Todas as Coisas (novela, 1994)
Contos da Infância e da Adolescência
(antologia, 1996)
O Choro no Travesseiro (romance, 2000)
Boa de Garfo e Outros Contos (antologia, 2000)
Sete Histórias (antologia, 2000)
Histórias de Família (contos, 2001)
A cabeça (contos, 2002)
Bóris e Dóris (2006)
Perdição (2008), que é seu lançamento mais recente.

O Conto

Estética:
       Característica marcante no estilo de Luiz Vilela é a arte difícil de expressar com economia de palavras o que transita entre as pessoas, atrás do óbvio, do aparente. Segue a tendência mineira de evitar excessos. Cria, em atmosferas densas, situações em que o leitor recebe através de um código sutil. As palavras como um gesto leve, quase um olhar, brotam espontâneas.

       A futilidade dos diálogos entre os amigos do bar (“Imaginem só: me deu a maior cantada!” - Kafka? Estou lendo. O processo.”) sobrepõe-se a densidade do diálogo entre mãe e filho (“Quer dizer que a senhora passou o dia sozinha?” - “Passei, mas não teve importância; arrumei uma costurinha pra fazer.”).
 
       O conto é mais um pequeno drama da miséria humana. Como várias outras dessas pequenas narrativas, este não tem propriamente um final, mas algo como uma interrupção, ou suspensão. Não há nenhum suspiro de alívio nem grande emoção com o desfecho, apenas a triste constatação de que a velhice é assim mesmo.
 
Elementos narrativos: 

Narrador:
Narrador observador, em 3ª pessoa, não participa da história.

Tempo:
O tempo é curto e cronológico. 

Espaço:
A história se passa na casa de amigos (Maria) e na casa da mãe do protagonista (Nélson).

Personagens: 
Nélson, amigos de Nélson (Toninho, Guido, Maria) e a mãe de Nélson.

Enredo (síntese do conto): 
       Nélson está com alguns amigos de classe média bebendo em uma festa. Eles discutem Kafka, dizem que lê Sartre e ouvem os Beatles. Preocupado com as horas, precisa deixar a festa para visitar a mãe, que aniversaria. Por isso é motivo de chacotas dos amigos e amigas e é com muita dificuldade que consegue desvencilhar-se. Embora pressionado, ele insiste e vai. Ao chegar à casa de sua mãe, já são cinco para a meia-noite. “Havia luz sob a porta, ela estava esperando-o”.

        A recepção é triste.
  Na casa da mãe, fica sabendo que ela não recebeu nenhuma visita naquele dia. Dulce não foi, nem Rubens, nem Álvaro, nem ninguém. A mãe reclama da idade e do esquecimento a que foi relegada. Fala-lhe do medo que tinha que ele não viesse. A mãe se emociona, e chora baixinho, com medo da velhice, da solidão, e Nélson a consola.